A história da Exposição do Crato

Primeira edição da Feira ocorreu em 1944| Reprodução.


Por Adeildo de Sousa - Historiador e  Pesquisador.

Sua primeira edição ocorreu durante 04 dias, (04 a 07 de Dezembro de 1944). O local, foi um terreno cedido pela Diocese que pertencia a Casa de Caridade do Crato, situado no antigo Sítio Pimenta, na área em que hoje se localiza a reitoria da URCA.

Foi fruto da articulação de um grupo de criadores locais. Seus idealizadores, foram os senhores Wilson Gonçalves (Prefeito do Crato na ocasião), seu cunhado, o professor Pedro Felício Cavalcanti, o deputado Filemon Fernandes Teles e o Dr. Paulo Botelho. Estes tinham por objetivo, realizar uma exposição que desse notoriedade a cidade e ao mesmo tempo, buscavam promover o desenvolvimento da pecuária caririense.

Intitulada inicialmente “Exposição Regional Agropecuária do Crato”, a festividade começava naquela primeira edição, a se destacar como um evento marco no município cratense. Nunca antes em nossa cidade, tinha sido visto algo daquela magnitude.

O evento contou com a presença de 300 animais vindos de navio e trem de Uberaba (MG), e recebeu um público de 5.000 visitantes. A solenidade foi oficialmente aberta, pelo interventor (Governador) Menezes Pimentel juntamente a diversas autoridades, e teve a benção do Bispo Diocesano Dom Francisco de Assis Pires. Foram distribuídos prêmios aos expositores que apresentaram os melhores animais e produtos agrícolas.

Chegou o ano de 1945, porém a 2ª edição não aconteceu. Naquela época, o país estava no final da II Guerra Mundial, e por questões econômicas, não era viável a realização de gastos com eventos de grande porte. Somente no ano de 1953, durante a gestão do Prefeito Décio Teles Cartaxo, quando o Crato completou 100 anos de elevação á categoria de cidade, é que se deu a 2ª edição do evento.

Por ainda não contar com um local devidamente oficial para a realização das festividades, a referida edição ocorreu entre os dias 14 e 17 de Outubro de 1953, num antigo bosque situado ao lado do antigo Hospital São Francisco de Assis, na área em que hoje temos a Praça Alexandre Arraes/Quadra Bicentenário.

A  2ª edição obteve um sucesso estrondoso. Ocorrida no âmbito dos 100 anos do Crato na categoria de cidade, recebeu visitantes ilustres como o Vice Presidente da República á época João Café Filho (representando o presidente Getúlio Vargas), Ministro do Trabalho João Goulart e inúmeras autoridades locais e nacionais. Foi naquele momento que o Crato e sua exposição, reafirmaram sua força no campo  agropecuário que se acentuava a partir de então.

A 3ª edição (1954) e a 4ª (1955), ainda ocorreriam no antigo bosque, palco da 2ª edição.

Em 1956, durante a gestão do prefeito Ossian Araripe e contando com o apoio do Governo do Estado do Ceará, foi criado o atual Parque Permanente de Exposições.

No ano de 1959, já devidamente respaldada pelo sucesso das suas 7 edições, foi convertida em “Exposição Centro – Nordestina de Animais e Produtos Derivados”, através de convênio entre 8 secretários nordestinos. A partir daquele ano, passou a utilizar a referida nomenclatura para o evento. Foi também nesse período, em que a festividade passou de 4 para 8 dias de duração e passou a ocorrer no mês de Julho.


O evento foi crescendo ano após ano, recebendo muitas implementações na sua programação. Iniciaram-se os famosos desfiles de animais de raças diversas acompanhados de leilões e rodeios. Instalaram-se parques de diversões, diversas barracas de palha que ofertavam comida, bebida e música e a partir de 1960, o palco do picadeiro central começou a receber shows culturais e musicais, com destaques para as saudosas apresentações do Rei do Baião Luiz Gonzaga e do grupo Trio Nordestino.

No início dos anos 70, foi a vez da Indústria e Comércio adentrarem ao evento. A presença de lojas e empresas diversas davam uma nova dinâmica a festividade, que saía de um viés exclusivamente agropecuário e passava a agregar novas experiências econômico-sociais.

Os bancos (do Brasil, do Nordeste, BIC e BEC), que também passaram a fazer parte do evento, atuaram como facilitadores daqueles que buscavam adquirir as espécies de animais expostas durante a festa.

Nessa época, foi criada inclusive uma  música-propaganda do evento que tornou-se muito popular: “Venha à exposição do Crato, que os bancos asseguram seu contrato”.

Foi ainda durante os anos 70, que se falou pela primeira vez na necessidade de se expandir a área do parque de exposições, dada a dimensão que o evento havia alcançado. Todos os anos, vinham pessoas  de diversos locais do Nordeste e do país, tanto para realizar negociações, quanto para conhecer de perto a festividade, tão propagada Nordeste afora.

Importante ainda destacar que, os shows musicais que ocorriam no palco do picadeiro central , iam no máximo até o horário das 23 horas. Na sequência, era a vez dos clubes entrarem em cena (Crato Tênis Clube, Gaibu e Aquarius), com a chamada “Festa da Exposição”, que seguia madrugada a dentro, embalada por inúmeros conjuntos locais e artistas nacionais.

A primeira reforma no espaço ocorreu de fato no final da década de 70, quando o parque recebeu novos edifícios e teve áreas remodeladas, para melhor atender aos expositores e visitantes do certame. No ano de 1980, foram construídos mais 02 pavilhões extras,para exposição de animais caprinos.

Entre os anos de 1987 a 1992, passou a fazer parte da grade de atrações do evento o Trio Elétrico pernambucano “Asas da América”. O trio, ficava estacionado num ponto estratégico, e em outros momentos, dava voltas no centro do picadeiro do parque,  tocando músicas diversas que animavam a multidão presente. Essa foi a época em que o picadeiro central do parque de exposições passou a ter uma nova dinâmica festiva, agregando um maior contingente de pessoas, superior as edições anteriores.

No ano de 1994, ocorreu a construção de mais um pavilhão para exposição de equinos. Em 1996, 40 anos após a edificação do parque permanente de exposições, uma nova e significativa ampliação foi realizada. 
O terreno que ficava localizado na parte baixa do parque, que anteriormente possuía um lago,  recebeu arruamento, vias de acesso e foi construído um grande pátio para shows em formato circular. 

A partir de então, o local passou a abrigar  a nova área de shows, juntamente as barracas,  parques de diversões e um parque de vaquejadas.

Em 1997, o evento muda de nome, passando a  receber a  denominação de Expocrato. Nesse mesmo ano, foi a última vez em que os shows foram gratuitos. Até 1997, a responsabilidade pela contratação dos artistas para a  exposição era da Prefeitura Municipal.

Em 1998, já de forma paga,  os shows musicais passaram para a gestão da Eventus Produções.
Ainda em 1998, a parte superior do parque que agora estava com mais espaço, recebeu novos melhoramentos. O picadeiro central construído na década de 50 (em formato de alambrado), foi reconstruído em madeira trabalhada. Houve ainda, a construção de 40 barracas padronizadas em estrutura metálica.
No ano de 2001, através de Projeto de Lei da Deputada Fabíola Alencar, o parque permanente de exposições passou a denominar-se “Pedro Felício Cavalcanti”, numa justa homenagem a um dos fundadores da Exposição do Crato.

Com o passar dos anos, agregaram-se ao evento diversas barracas de artesanato, um stand e palco artístico dedicado a URCA, um espaço destinado a cultura popular (Palco Mestre Éloi), um museu em homenagem a Luiz Gonzaga, um engenho, uma casa de farinha e dezenas de outros empreendimentos que davam uma nova dinâmica ao parque, e ao mesmo tempo, aumentavam o fluxo de pessoas no seu interior.

A nova área de shows situada na parte baixa do parque também foi bastante alterada. Além das barracas de comida e bebida que compunham o entorno  do espaço, passaram a fazer parte da estrutura  tendas eletrônicas, 01 segundo palco e uma área de camarotes. Em meados dos anos 2000, a gestão das atrações musicais do evento passou para a  empresa Luan Promoções. Nos anos seguintes, seria a vez da RBA Promoções, que ficaria até o ano de 2017 .

No ano de 2009, 11 anos após a última reforma, foi novamente trazida à tona a necessidade de uma nova ampliação para o parque de exposições do Crato.A  justificativa dada à época, era a de que o parque não comportava mais a dimensão que o evento havia alcançado.A isto, somava-se  a dificuldade de acesso a localidade, principalmente em horários de pico, gerando  inúmeros congestionamentos  no entorno do estabelecimento.

Para um parque mais amplo e moderno, se fazia necessária a mudança do local do evento. O projeto, teria um investimento de 25 milhões por parte do Governo do Estado. Todavia, a ideia não chegou a ser aceita, pois a população cratense  rejeitou a iniciativa.Com a situação do parque ainda não resolvida de forma efetiva, em 2011 houve uma nova retomada do assunto. Criadores e Grupo Gestor da Expocrato, defendiam a construção de um novo parque e a sua mudança de local.

O prefeito municipal á época, Samuel de Alencar Araripe, se posicionou em favor da permanência do parque em seu local de origem e em contrapartida, propôs um plano de requalificação urbana que contemplava a ampliação do parque de exposições e a construção de 02 avenidas no seu entorno , visando  melhorar o tráfego e o acesso a aquela localidade.

O debate em torno de uma nova ampliação para o parque de exposições do Crato durou quase uma década, até que em Fevereiro de 2018, o Governador do Estado Camilo Santana, assinou a ordem de serviço para a total revitalização e ampliação do equipamento cratense. A obra foi orçada em 35 milhões de reais.
As maquetes referentes a reforma e ampliação do espaço, foram apresentadas a sociedade local, ao mesmo tempo em  que se iniciava o processo de demolição da antiga estrutura, começando pela parte superior do parque.No novo projeto, só foram mantidos oriundos da obra original, a área dos pavilhões de animais e o picadeiro central. Demais estruturas, foram demolidas.

Além das reformas das áreas superior e inferior do parque, foi construída uma grande avenida contornando todo o local, com a finalidade de melhorar o fluxo do trânsito naquele entorno.
O novo parque de exposições passou a ser composto por 2 grandes zonas, sendo elas:

1 - Área do recinto da feira: Onde se concentram 21 edifícios dedicados às diferentes funções, como recepção, boxes para artesanato, sala multifunções/exposições/museu, e uma sala dedicada aos engenhos de rapadura que fazem parte da história local.
2 – Área do Parque/Eventos temporários: Constituídas por zonas livre e áreas verdes, destinadas a acomodar grandes eventos.

Em 06 de Julho de 2018, o novo parque  de exposições foi inaugurado pelo Governador Camilo Santana, juntamente a diversas autoridades que se fizeram presentes à solenidade.A gestão dos shows artísticos que até 2017 era de responsabilidade da RBA Promoções, passou para a empresa Arte Produções, que converteu o evento em um festival, dotando-o de inúmeros melhoramentos. Desde Julho de 2018, o mesmo passou a ser denominado de “Festival Expocrato”, contando com uma  mega estrutura digna de grandes eventos nacionais.

Com a construção do atual parque que é considerado um dos maiores do nordeste, a cidade passou a ter um novo equipamento dotado de melhor estrutura, espaço e com finalidade multiuso. Todos os meses são realizados eventos diversos  no local, que é também utilizado pela população para a prática de atividades de lazer e esportivas.

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1 Comentários

  1. O certo é que O POVO de Crato perdeu irremediavelmente a SUA tradicional EXPOSIÇÃO que antes, sem dúvida alguma, era realmente SUA, pois, nessa nova roupagem cedendo a mesquinhos interesses econômicos, perdeu todo o seu glamour pelo total desrespeito à tradição, à história, aos velhos costumes, às liberdades, à coisa bucólica, doce e aconchegante que eram as suas maiores, quase sagradas e saudosas características. A "coisa" agropecuária, seu "tempero" original e sua razão de existência, perdeu seu sentido, dando lugar a um megaevento festivo, "insosso" em sua essência, cujo objetivo é apenas encher os bolsos de alguns poucos que esperam agora, todos os anos, sua época de saciarem suas sedes, numa ganância sem fim. Saudades demais das barracas de palha, da gente simples do bairro Caixa d´água descendo com suas coisinhas para vender, entre outras tantas coisas simples e maravilhosas impossíveis de serem reproduzidas que, pelo menos nas memórias das pessoas que viveram essa história, jamais serão apagadas e nem cobrados tributos pelo livre exercício saudável de poder relembrar.

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